Por Cicero Domingos Penha
Nas funções de um gestor de pessoas, não há nada mais difícil do que a missão de demitir, porque mandar um talento embora do seu trabalho significa ir além da quebra de um vinculo meramente profissional.
Para a pessoa há vários tipos de perdas em jogo. A primeira é a financeira que o coloca no risco de subsistência ou no mínimo de adiamento de projetos pessoais. A segunda é a de relacionamentos, uma vez que na organização o profissional vai criando vínculos pessoais importantes para sua vida funcional. Começa com seu chefe e amplia-se com colegas de trabalho, com clientes, fornecedores, parceiros, profissionais de outras organizações, etc. Ao ser demitido esses vínculos tornam-se, no mínimo mais distantes e difíceis. A terceira e, talvez a mais cruel, é a emocional que o coloca em situação de sentir-se preterido ou mesmo humilhado quando a forma do desligamento é completamente inadequada.
Demissões são inexoráveis numa organização porque as mudanças são uma constante, as exigências em termos de competências vivem uma escalada sem precedentes e nem sempre os talentos percebem e se atualizam. Também existem os fatores circunstâncias e societários que obrigam uma empresa a repentinamente ter que rever sua linha de negócios, seu mercado e até mesmo e sua estrutura organizacional onde fatalmente mexerá com seu quadro de pessoal, às vezes até com demissões em massa.
Embora a necessidade seja inexorável, há que se atentar muito seriamente para a forma de se fazer o desligamento. O momento da comunicação da demissão é o momento da verdade, de olhar olho no olho e justificar. É difícil porque exige coragem e coerência entre o histórico e a ação presente. Nessa hora o gestor põe à prova sua liderança, pois suas falhas serão também cobradas até pelo olhar do demitido. Por tudo isso, o ato de demitir deve ser tão cuidadoso e respeitoso como o é o ato de admitir, mesmo que o talento tenha errado.
É muito comum a admissão ser cercada de todo o cuidado, com várias entrevistas e conversas sedutoras, o que equivale a dar tratamento digno a alguém que ainda nem se conhece. Porque esse mesmo cuidado não é seguido na demissão com alguém que já se conhece, que bem ou mal ajudou a construir algo na empresa? Ainda há organizações que demitem através de telegramas. Nada mais agressivo e desumano. Esta é uma das razões pelas quais ainda temos tantas reclamações trabalhistas.
Quem sai com raiva acha um jeito de se vingar, no mínimo denegrirá a imagem do ex-empregador. Demissões malconduzidas também sinalizam para os que ficam o que lhes espera no futuro. O melhor protocolo recomenda que primeiramente o demitido deve ser comunicado das verdadeiras razões de seu desligamento e ele não precisa concordar. Deve ser acolhido com a boa vontade de tentar ajudá-lo a conseguir outra oportunidade mesmo fora da empresa, e, por fim, se possível, deve ser protegido com algum tipo de ajuda para os primeiros meses de desemprego.
Gestores devem ser melhor preparados para a difícil missão de demitir. Precisam ser orientados para tratar o demitido com respeito e dignidade. A quebra de um vínculo no trabalho não pode ser uma declaração de guerra nem tão pouco um ato desprezível. É assunto sério e precisa ser tratado como estratégico para a direção de talentos humanos da empresa.
Cicero Penha é Presidente da SER HUMANO CONSULT